GRUPO DE ESTUDOS POLÍTICOS Práxis Revolucionária

Feito para estimular o Pensamento Crítico.

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quarta-feira, 24 de março de 2021

A responsabilidade da pequena e da grande mídia na era da pós verdade e da pós política - Quais são nossas alternativas?


OPINIÃO



Por Jaqueline Menezes*

Onde a despolitização acontece, a Práxis Revolucionária precisa ocupar mais espaço! 
Como combater os sintomas da pós-verdade e disputar o interregno?

A despolitização, além de um fenômeno bastante difundido atualmente, tem servido muito bem como ferramenta de manutenção do status quo, o centro ausente da ontologia política. A despolitização do século XXI está intimamente ligada com perversões e fetiches, no sentido psicanalítico de uma política cada vez mais afastada dos seus próprios pilares fundamentais. A guerra travada em um cenário de falsa polarização atinge atores que divergem em seus projetos e elimina a possibilidade de antagonismos, tornando o solo da batalha homogêneo e controlado pelo ódio precedido da inércia das massas.

A inércia com que recebemos todos os tipos de informações talvez possa ser explicada pelo fato do desenvolvimento, em todas as áreas do convívio social, ter sido bombardeado pela automatização de processos que exigem cada vez menos esforço, principalmente de raciocínio. As facilidades tecnológicas, que muitas vezes serviriam para nos auxiliar nas tomadas de decisões do cotidiano, aos poucos nos oferecem uma experiência ainda mais abstrata e descolada desse mesmo cotidiano. A pós-verdade, por sua vez, pretende minar a necessidade de passar as informações que recebemos pelo crivo da razão, tornando nossas relações sociais moldadas por grandes empurrões de emoções internamente ligadas ao senso comum. Desta forma, perdemos paulatinamente a capacidade de transitar nossos processos de tomada de decisão pelos vales dos sentimentos e estabelecer conexão com a razão, pois não há mais a necessidade de bom senso, não precisamos mais decidir se a informação A ou B confere com a realidade, pois a realidade ancorada em pequenas ações no cotidiano foi abstraída por processos automatizados, tudo isso com o agravamento dos efeitos das fakenews.

E onde essa grande inércia coletiva encosta no mundo da pós política? Se imaginarmos que a hegemonia precisa do consentimento das pessoas para estabelecer seus paradigmas ou fortalecê-los dentro de um mecanismo que já esteja em funcionamento e encontra na automação massiva de pequenos processos do cotidiano elementos capazes de eliminar qualquer sintoma de racionalidade ou que necessite do crivo de senso crítico, entendemos que a pós-política enxerga na pós-verdade uma oportunidade de manter esse estrato em um stand by por tempo indeterminado. Esse estado de sonolência possibilita que atores possam moldar pensamentos massificados e transformar pessoas em uma nação de agentes automatizados através do condicionamento da pós-verdade. Então, vemos o que antes era uma massa desacreditada nos processos políticos, tornar-se grata por alguém estar disposto a lidar com as complexidades de um mar de incertezas políticas, sociais e econômicas agarrando-se a promessas de soluções simples. Esse alguém, que tende a conversar diretamente com as emoções dessas pessoas utilizando principalmente elementos do senso comum, consegue entrar no consentimento da massa recebendo um voto de confiança.

Muito rapidamente, esse discurso de que soluções simples podem resolver problemas complexos e basta alguém "limpo" da sujeira da atual política para fazê-lo, integra elementos da pós-verdade que servem de ponte para a transformação da política em ódio. Entramos, então, na fase da despolitização chamada de pós-política, onde quem não quer deixar o "homem trabalhar" está contra o país e deve ir embora. Não raras são as manifestações de agressões e ameaças de eliminação ideológica e física do oponente, o que agrava, e muito, a possibilidade saudável da oposição de ideias, revelando os perigos da narrativa única exatamente por apagar a instância natural e benéfica do antagonismo. Nesse contexto, resta evidente que a pós-política condicionada pela pós-verdade é extremamente prejudicial à evolução social e política pela democracia, assunto, aliás, tratado por Sabrina Fernandes em seu livro "Sintomas Mórbidos: A encruzilhada da esquerda brasileira":

A pós-política despreza o antagonismo e o rejeita como ligado ao “radicalismo” e ao “extremismo”. Esses seriam contrários ao senso comum e à ideia de ser razoável e tolerante na sociedade. Ao mesmo tempo, ela nega a existência de extremismos e radicalismos fundamentados na defesa do status quo, do capital e das estruturas de opressão. Nesses casos, qualquer oposição às mais variadas expressões radicais de misoginia, por exemplo, é colocada como radicalismo e “ditadura do politicamente correto”, mesmo sendo essas expressões misóginas responsáveis por um ciclo de violência física e psicológica na sociedade.
Uma ferramenta essencial tanto no combate como na propagação da pós verdade vinculada à pós política é a mídia; desde a grande mídia com seu extenso campo de influência, até aquela mídia local que pode reproduzir os elementos de pós-verdade que muitas vezes já vem no "kit marketing". O que estamos dizendo é que quando a edição de determinada notícia opta por certas palavras, escolhe cuidadosamente a fonte, o posicionamento da imagem, usando deliberadamente de seu poder de estabelecer conexões com o leitor através da semiótica, a forma como determinada informação é transmitida pode reforçar preconceitos, arranjos sutis de controle, ativação de gatilhos e condução dos sentimentos e anseios do senso comum que nas mãos da ultrapolítica são facilmente disciplinados e militarizados.

Recentemente, no Brasil, um perfil no Twitter denominado Sleeping Giants ganhou visibilidade por denunciar aos anunciantes de produtos e serviços em sites e blogs na internet que o conteúdo de algumas  páginas onde seus anúncios estavam sendo mostrados eram em grande parte de fakenews, tais denúncias proporcionaram alguma desidratação nos recursos financeiros das referidas páginas, o que causou comoção aos defensores dos canais e agitadores desta forma de comunicação, muitos deles ligados ao atual governo brasileiro, porém, ainda assim, tal iniciativa, além de ser praticamente única, não alcança as grandes mídias que atuam dentro dos limites da lei, mas sempre esticando a corda da manipulação emocional através das suas edições permeadas de simbologia. 




O que vemos é que estão construindo a ideia de que essas ações são uma espécie de "nova caça às bruxas", um impedimento à liberdade de expressão ou agenda do indesejado "politicamente correto", o que torna essa narrativa uma potente arma silenciosa.


Mas como estabelecer os benefícios de continuar tentando implantar um sistema democrático que possa atender a diversidade tanto nas suas complexidades quanto na evolução da nossa condição enquanto seres sociais? E, ainda, será possível manter o posicionamento de antagonista dentro de um sistema que está agarrado aos interesses hegemônicos?


Um possível começo para responder tais questões talvez seja o fortalecimento de braços da mídia independente, do jornalismo aliado aos ideais de justiça e a disseminação de meios de comunicação que se mostrem alternativos às demandas do capitalismo. Falar abertamente com a classe que deve ser mobilizada sobre a necessidade da manutenção e fortalecimento de antagonismos, calibrar as políticas educadoras da base social que levantará a bandeira de uma revolução é urgente.

Talvez pensar em uma esquerda que não abre mão de dizer que é esquerda, falar abertamente sobre socialismo, sobre as bases do discurso de esquerda (a radical pelo menos deve fazê-lo), expor a razão de existir no mundo tantos oprimidos, expor as agruras do capitalismo e como tal sistema torna a vida das pessoas miserável, apresentar alternativas ao sistema, construir utopias, sempre trabalhando com a práxis e observando esse fundamento para que o discurso não se afaste da prática, evitar correr o risco da teoria tornar-se só mais um amontoado de palavras antigas, resgatar o papel da esquerda na vida das pessoas, retomando o lugar de esperança, manter o sentimento de que é possível a construção de um mundo justo e mais bonito, mantendo um bom equilíbrio entre o pessimismo da razão e o otimismo da vontade. Se o velho está morrendo, sejamos uma boa alternativa do novo que precisa nascer.


Referências:

ŽIŽEK, Slavoj. O sujeito incômodo: o centro ausente da ontologia política. São Paulo: Boitempo, 2016.

Fernandes, Sabrina. Sintomas Mórbidos: A encruzilhada da esquerda brasileira. Autonomia Literária, 2019.

*Jaqueline Menezes, estudante, organização do Grupo de Estudos Políticos Práxis Revolucionária.























Grupo de Estudos Políticos Práxis Revolucionária

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